domingo, 30 de janeiro de 2011

A PREGUIÇA DE DORMIR

Numa outra crônica o Nuno (vou chamá-lo assim, porque NuNuNo é gago mas eu não sou )me lembrou de falar sobre a preguiça de dormir. E é verdade, falha minha. Eu durmo pouco, não por insônia, mas pela preguiça de ir dormir mesmo. Dormir é se resignar com o dia que foi pouco. É se entregar à morte sem luta. É permitir que alguém fale sem poder lhe interromper.
Sabe aquele pedacinho do inconsciente que registra todas as imagens e todos os sons? Seja de gente real ou de algum filme antigo, ou um texto que alguém dentro de nós lê, ou das coisas inúteis que a gente ouve de estranhos na rua. Todas as informações acumuladas que são jogadas pra dentro da nossa cabeça? O sono só chega  quando a gente acessa uma determinada  área do cérebro e a partir daí ele convoca a arrumadeira, que vai guardar cada coisa na sua gavetinha, ver o que presta e o que pode jogar fora. Então ele nos põe pra dormir para o consciente não ficar atrapalhando. Acontece que para acessar essa área é preciso ficar quieto, pô! Porque é o movimento abobalhado do globo ocular que busca o caminho.
Para quem não registra lá tanta coisa assim, o sono vem fácil porque já ta tudo arrumadinho. Sabe essas pessoas que dormem com as galinhas e acordam bem cedinho? D i s p o s t a s ? Então.  J a m a i s  serei  assim. A quantidade de informações que entram depende da porta de entrada abrir ou fechar, mas no coitado do DDA nem porta tem, quanto mais tranca. E vai entrando, vai entrando coisa. Não tem mais espaço nas gavetas, mas vai entrando. E vão sendo jogadas pelo chão mesmo. Aí, na hora da faxina, é claro que são necessárias umas 10 horas pra arrumar aquilo tudo.
 A culpada disso tudo é a bendita curiosidade! Quem me manda achar tudo interessante!
O meu crescimento intelectual é parecido com gosma de lesma. Eu não passei de uma fase para outra, como seria o padrão humano. Em mim só acrescentam fases. Para chegar a adolescente não morreu a criança. Para chegar a adulta, as outras não morreram. O envelhecimento não matou nenhuma delas. Vai chegando gente dentro de mim e vai se instalando. De modo que tudo o que vejo, ouço, cheiro, sinto, vai interessar a alguma de mim. A mesma capacidade que tenho de entender os meandros da política internacional, também tenho para continuar a fazer caretas na frente do espelho. Então, como pôr esse povo todo pra dormir no mesmo espaço? A velha até que quer dormir, porque ela cansa, coitada! A adulta até que entende que tem de dormir pra levantar cedo pro trabalho no dia seguinte. Mas e se a adolescente quer continuar encasquetada com aquela frase que não disse? Ou se a criança quer continuar brincando? (E olha uma coisa muito séria que vou dizer agora: de todas que somos, a mais violentada é justamente ela).
Mas já foi pior. Hoje aprimoro uma técnica que aprendi sozinha (acho que foi a criança que descobriu), para minimizar a dor do tédio desses instantes de mim . Descobri por acaso que se eu olhasse bem à esquerda do olho esquerdo, com os olhos fechados, no escuro, acessava imediatamente essa área voyeur do meu cérebro. E assim, dou uma forcinha pro olho bobo que nunca lembra o caminho. Vou direto ao ponto. Corto caminho. Eu acho que foi a criança que descobriu porque, já que ela tem que ficar quieta, na marra, pelo menos fica ouvindo a conversa dos outros, enquanto a arrumadeira trabalha.  E empacoto, imediatamente.

Só não descobri ainda uma maneira de IR pra cama. 

P.S – O NuNuNo não é gago. Foi só uma brincadeira infame.

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