terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O RIO DETRÁS DA CURVA



                                            Atrás daquela curva há um rio
                                            Sei-o, porque o vi.
                                           
                                            Há rios que ficam na retina
                                            para o lado de dentro.
                                           
                                            Eternos, a quem os conhecem
                                            invisíveis, a quem nunca os viram.
                                                                                        
                                            Amores, na vida, há alguns
                                            que a curva do tempo não mostra.
                                           
                                            Eternos, na memória do avesso
                                            dos que os sabem, porque os viveram.

AMOR BANDIDO

Que mata e ressuscita
o que de pior habita
dentro de nós.

Amor de desejos
lampejos ardentes
que trinca os dentes
mas não grita
aos quatro ventos, a dor
de amar sem amor.

Amor sem respeito
que finca os cravos no peito
que fica, fingindo que vai
que não sai da cabeça.
Amor que enlouquece
que jura que muda
mas sempre amanhece
grudado, enroscado
nos restos de nós.

Amor de devaneios
que busca no espelho
o instante partido
Amor de olhares furtivos
por cima dos livros
que não foram escritos
Amor proscrito
repatriado em perdões.

Amor dos senões
amor das desculpas
Amor que se culpa
do tempo perdido.
Amor indeciso
que junta e separa,
Amor das amarras
Amor das chibatas
que fere, machuca.

Amor que não quero
mas não sei arrancar.

O CHÃO

Ah! Tão pé no chão!
Tão pé no chão, que o peso do chão me sobra à cabeça!
Me cobra a represa do vôo travado.
Me pune o pecado da lida rasteira.

Da beira, da beira, da eterna beira,
de quem só entende de chão.

Da asneira de lição aprendida dos precipícios alheios
Tanto receio, tanta xepa de vida!
Tanta regra seguida, a nem um metro do chão.

Quanto chão! Quanto chão!
Quanta vã guarida de chão!
Tanta pedra, tanto tropeço e o chão,
 sempre o chão,
 a me poupar da queda.

Quanta náusea de altura da superfície do chão!

28/01/12

NA MINHA PÁTRIA NÃO JUSTIÇA

Na minha pátria não há JUSTIÇA.
Na minha pátria não HÁ justiça.
Na minha PÁTRIA não há justiça.
Na MINHA pátria não há justiça.

Essa frase não é minha.
É a tradução de um verso da canção  LA CARTA de Violeta Parra.

As alternâncias do enfoque nas palavras dentro do contexto era exercício ensinado nas aulas de interpretação de texto, nos tempos de colégio.

De fora pra dentro, num crescente, assim se mede uma dor, aprendi com o tempo.
A dor, enquanto de Violeta, me causava comoção. Um pouco mais, eu diria, por eu me considerar poeta e os poetas sensibilizam-se até com lua cheia, quanto mais com dor alheia.
À medida que a dor se aproxima do umbigo, vão se agregando outros sintomas, como desespero, náusea, sensação de impotência e abandono.
Poderia citar vários exemplos do que anda acontecendo na minha pátria e que se aproximam perigosamente do meu umbigo, a ponto de me fazerem lembrar da canção.

A gota d’água/veneno de hoje foi uma reportagem vista na TV sobre os brasileiros sem-teto expulsos, na porrada, dos tetos que ergueram em terreno ilegal, no interior de São Paulo.
Na minha pátria fez-se a justiça (da qual dispomos): devolveram, na porrada, o terreno ao seu legítimo dono, o Sr. Naji Nahas (que todo brasileiro tem a obrigação de saber quem é), porque ele tem o registro de posse. E eu tenho vontade de falar muito sobre isso, mas não consigo escrever e cuspir ao mesmo tempo.

Para tentar esquecer tudo isso, volto aos exercícios juvenis de interpretação de texto, desta vez de dentro pra fora, para ver se a dor vai embora:

EU estou com vergonha de ser brasileira.
Eu ESTOU com vergonha de ser brasileira.
Eu estou com VERGONHA de ser brasileira.
Eu estou com vergonha de SER brasileira.
Eu estou com vergonha de ser BRASILEIRA.


28/01/12

ANGÚSTIA

A febre do estrepe
o eco do berro
o prego, o flagelo
o secreto inferno
o inverso.

a seca da pena
a arena, a algema
a rede, a sede
a parede

o beco, o fecho
o medo do erro
o peso do gesso
o azedo do apego
o avesso.

o desassossego.



05/12/11

DA BOLHA AO CALO

Estou cansada de fingir que acredito em quem mente pra mim
De dizer que está bem o que pra mim está ruim
De ser polida com quem diz que me ama, mas nem me sorri,
De ser complacente, de relevar os presentes que não recebi,
De sentir culpa por coisas que disse ou deixei de dizer
De odiar o que faço e sufocar meu prazer           
De suportar os pequenos entraves, cotidianamente,
De permitir que o passado me embace o presente
De olhar no espelho e não ver novidade
De estancar os meus sonhos, engolir as vontades,
De insistir no afeto de quem não merece
De contar os dias que faltam pro que não acontece
De trocar o amor-próprio pela submissão
De esperar por milagres que nunca virão.


       O meu medo maior é que a bolha vire calo
       E o que hoje machuca um dia endureça.

11/01/12

O MEDO

É ele o alerta que protege e encarcera
que me abriga e me enterra
que me esconde do mundo.
.
o medo do passo no meio da rua
do escuro da esquina
do outro lado do muro

o medo do som que teria o grito
do esporro insano
da quebra do mito

o medo da mordida do bicho acuado
Do soluço, da fúria
da raiva engolida

o medo da força do punho fechado
da volta sem volta
pra dentro do umbigo

o medo do salto por cima do trilho
do fim do medo
de tudo

O medo de mim
O medo de mim.


05/12/11

O CAVALO DAS ALMAS

Licinha ajudava como podia. Subia no telhado e, com vara, várias vezes mais longa que suas finas perninhas, socava, socava com força, pra dentro da chaminé.
A mãe talvez nem soubesse, (não, não sabia), o perigo que a filha corria. Em pé, sem apoio, girava no ar os braços, brincando de equilibrista. E ria.
Depois não descia, era por lá que ficava, no seu mundo de silêncio e telhas, e os livros que lia.
Às vezes ouvia o canto feliz da mãe, que cozia. Esquecida das pragas que há pouco rogava:
- Cavalo das almas!
Toda a pobreza, cansaço e fumaça, o fogão resumia.
Velho vermelho fogão, de cimento e lenha, e fogo, e choro. Nuns dias picumã, noutros iguarias. Nunca soube Licinha de onde vinha o nome e o porquê, achava que se tratava de tudo aquilo que entupia.
- Cavalo das almas!
E a vida seguia, como tinha de ser.

Numa noite, talvez véspera de Natal, findo um desses dias de pragas rogadas, ouviu Licinha a mãe que chorava, coberta de raiva, pobreza, cansaço e fumaça, e o pai que dizia: - Calma, velha! Não era pra eu lhe dizer (então, porque é que dizia?) mas amanhã ganharás um novinho, à gás!

Dos dias seguintes não se lembra, mas ainda em si e em meia dúzia de seres, mesmo que a ninguém mais faça sentido, haverá para sempre o amado inimigo:
- Cavalo das almas!
E a vida seguiu, como tinha de ser.


11/12/11

O CAVALO DAS ALMAS - II

Vou contar essa história direito:

Houve um tempo em que fui menina. Sim, porque às vezes penso que nasço a cada manhã, já velha e cansada, sem saber exatamente onde e porque estou. Mas, sempre, ao final de cada um desses dias, sei que fui menina, por mera lógica de quem se percebe humano, apesar de tudo. Sei que tive história, sei da minha raiz enterrada numa cidadezinha do interior do Paraná. Sei que tive pai, mãe, irmãos, primos, vizinhos e essas coisas, cada um com suas histórias. Guardo na memória até histórias que não são minhas, pela convivência e por ouvir dizer. E tive uma casa.
Nessa casa, além de pai, mãe, irmãos, varanda, quintal, havia logicamente um telhado. Porque não, não era uma casa muito engraçada..
Havia um telhado que, para mim, era um cômodo a mais, parte integrante dos meus melhores momentos. Digo, sem a menor dúvida, que vivi mais tempo nas árvores e no telhado, que dentro da minha casa, apesar de manter na retina cada centímetro dela, cada rabisco nas paredes sem pintura, cada nuance da madeira encerada do assoalho, cada homenzinho do fecho das janelas, cada móvel. Ainda sei onde encontrar cada quinquilharia de cada gaveta. Basta fechar os olhos. Mas sempre, sempre, olho o interior da casa, do ponto de vista do telhado. Vejo tudo de cima, como quando era criança. Chego a me ver lá embaixo da mesa, meu lugar predileto, quando a minha mãe lavava o piso e colocava pó-de-serra, para secar mais rápido. E eu ficava desenhando com os dedos e ouvindo, sem entender, os assuntos de dor ou riso, de que falavam os adultos.
Alheamento talvez seja a palavra que melhor me defina, desde sempre.  E era nesse alheamento que eu fixava não as vozes, mas os sentimentos que elas me causavam:
- Olha que tu te ofuscas! – disse-me o meu pai, certa vez em que eu pairava a mão sobre a fumaça da lamparina, porque achava lindo o desenho que se formava na palma . Não entendi que o verbo desconhecido era uma ordem para que eu tirasse a mão. Só na terceira vez, em que a frase aliou-se ao olhar de cenho fechado, foi que comecei a desconfiar que palavras são absolutamente desnecessárias quando se deseja algo de crianças ou filhotes de qualquer espécie. Basta o olhar duro, o dilatar de narinas, a rispidez da voz.
Aprendi desde cedo a me esquivar, para não merecer o castigo das reprimendas. Aprendi a lição errada, mas agora, que importa? Tivesse eu simplesmente perguntado o significado de termos ignorados, tantas imagens como esta não queimariam como fogo até hoje na memória.
Do telhado para onde vou, quando quero me ver, existe um fogão antigo, como tudo naquela casa. Antigo como é hoje o meu espelho, mas lá era meu contemporâneo. Companheiro de cimento vermelho, onde os toquinhos de giz tingiam de branco os toscos desenhos e caligrafias caprichadas. Sentada no chão, como tinha de ser, Sempre no chão, embaixo das coisas, ou no alto. Nunca ao mesmo nível de gente grande. Estranho modo de infância, mas agora, que importa?
Numa coisa minha mãe e eu concordávamos sobre aquele fogão: ele era mais que um objeto inanimado. Para mim era paciente professor e para ela o:
- Cavalo das almas!
Que veio dos infernos para fazer da minha vida outro!
Pobre mãe, já tão enjoada de tantos cozimentos de vida. Tanto se fartaram com sua comida família, empregados, comadres, vizinhas. E ninguém partilhava a fuligem.
E pobre fogão, agora cavalo, que nem sabia onde era o inferno, já que era ela quem lhe ateava o fogo. Engasgava-se o pobrezinho, e se entupia de pressa e medo.
E me doía ouvir o tom, mais que o som, daquela desesperada prece às avessas. 
Então, eu subia no telhado, meu velho conhecido, e erguia não sei como, a vara que lá ficava, de comprimento exato que ia e vinha, e despejava lá embaixo todo o picumã incrustado. E desafogava amigo e mãe, até o próximo engasgo.
Não me lembro de ouvir, ver que fosse, nos olhos, um agradecimento pelo perigo e intenção do gesto. Talvez porque o tempo em que permanecia lá no telhado  fosse o suficiente para o esquecimento, ou talvez até tivesse agradecido e eu não me dei conta. Quantos agradecimentos devo ter recebido na vida, e não me atentei, por não pensar que os merecesse.
Mas me lembro bem que o definitivo herói, o que a presenteou com o novo fogão à gás, foi beijado e abraçado. Tivesse eu descido em seguida, alguma vez, do telhado e partilhado o consolo do paliativo, e tivesse pedido o abraço... mas agora, que importa?
O que restou do cavalo das almas foi a nossa quietude.

11/12/11

É O OUTRO, O TEMPO TODO

            Aquele jovem senhor, de aparência distinta, sentado no meio-fio de uma movimentada avenida, instigou-me a curiosidade, a ponto de ir ter com ele:
- Bom dia, senhor. O senhor está bem?
- Não muito – respondeu-me, cabisbaixo.
- Posso lhe ajudar em alguma coisa? Encaminhá-lo a um pronto-socorro?
- Não, senhora. Meu mal não é físico. Para o meu infortúnio gozo de excelente saúde.
- Precisa de ajuda para atravessar a rua? Logo adiante há uma faixa...
- Não, senhora. – interrompeu-me. - Ir ou ficar, agora já não importa.

Era evidente que aquele homem estava desnorteado. Talvez uma amnésia lhe fizera esquecer o caminho de casa. Talvez um trauma violento o tenha tirado do prumo.
O que mais me chamava atenção nele era a elegância do porte: cabelos longos, levemente ondulados, presos por um elástico, barba bem aparada, roupa surrada, mas via-se de longe tratar-se de tecido caro. Os pés descalços, porém limpos. Não me contive e continuei a conversa, no intuito sincero de ajudá-lo, de alguma maneira:
- O senhor aceita um café? Podemos ir ali à confeitaria. Não estava fazendo nada importante mesmo. Podemos conversar se quiser.
- Sim, podemos. Há tempos não converso com ninguém. Todos sempre apressados, não é? – sorriu-me, tristemente, como agradecido pelo convite.
- Me desculpe a impertinência, mas o seu perfil não condiz muito com o das pessoas que vivem nas ruas – disse-lhe, assim que nos sentamos, junto à porta da confeitaria.
- E qual é o perfil de quem vive nas ruas? – perguntou-me, com ar de reprovação, como se adivinhasse um preconceito na minha observação.
- Oh, desculpe. Não quis emitir juízo de valor. Apenas chamou-me a atenção o seu traje, de quem vem de família abastada e por algum motivo viu-se distante de sua casa.
- Banido, seria a palavra. – a voz embargada, denunciando o presságio de que ouviria uma triste história.
- O senhor desentendeu-se com a sua família?
- Não. Nunca tive família. Vivia sozinho num castelo, apenas na companhia de um amigo. Até que um dia ele virou-se contra mim e me condenou ao exílio-.
- Ah! O senhor vivia num castelo... Repeti em voz alta a frase que me trouxe a suspeita de estar tratando com um doente mental. “Talvez tenha fugido de algum sanatório” pensei..
- Sim, vivia. – continuou, como se não percebesse a minha descrença. - Tinha muito poder, muitos servos, um grande exército que defendia meu reino. Com a traição de meu amigo, os meus próprios soldados se encarregaram de me escoltarem até as fronteiras do meu reino.

Já tinha ouvido falar em muitas estórias fantasiosas e sei que a mania de grandeza é comum em muitos doentes mentais, mas nunca havia conversado com um, assim tão de perto. No entanto, a tristeza daquele homem era tão genuína, que eu já não sabia mais como me livrar dele. Alguma coisa me impelia a continuar ouvindo, ao menos para que ele desabafasse a sua dor. Entrei na sua fantasia e o incentivei a continuar:
- Mas como se deu essa traição? Como ele conseguiu se apoderar de tudo o que era seu?
- Por amor baixamos a guarda. Por amor abrimos portas e muitas delas acabam por nos levar às nossas próprias masmorras. Infelizmente confiei no meu melhor amigo. Ele era o meu guardião, o que transmitia as minhas ordens e as fazia cumprir.Nunca desconfiei da sua inveja. Nunca pensei que o que de fato ele queria era tomar o meu lugar.
- Mas por que o senhor não tentou voltar? Falar com o seu povo? Denunciá-lo? Por que não reuniu um exército e o expulsou de seu reino?
- Tentei isso. Foi a primeira coisa que fiz. Reuni os poucos fiéis soldados e empreendi uma luta sangrenta contra ele. Óbvio que perdi a batalha, não? Nem sempre são os bons que vencem as guerras. E de tudo isso, o que mais me dói é que ele não é um bom rei. É mau. O seu maior prazer é me fazer presenciar todo o mal de que é capaz. E é muito, acredite. A cada lamento de dor que ouço, me dói no fundo do coração.
- O senhor ouve vozes!? – exclamei, tentando imaginar o tamanho da aflição a que aquele homem estava submetido. “Talvez seja esquizofrenia” arrisquei um palpite, leiga que sou em classificação dos distúrbios mentais.
- Sim, o tempo todo. Do mundo todo.  E a cada vez que clamam pelo meu nome, mais ele se deleita. com a minha impotência. É por isso que procuro estar nos lugares mais barulhentos possíveis. Porque não agüento mais ouvir tanto choro e ranger de dentes.

“Choro e ranger de dentes” Já ouvi essa frase em algum lugar – pensei. - Não! Não é possível! Será que este homem pensa ser Deus?

- Mas sempre ouvi dizer que o senhor é mais forte que ele, então, porque não o expulsa, usando somente o seu poder mental? Por que não o desafia para uma luta, só os dois? – instiguei-o, para ver até onde ia aquela mente perturbada.
- Porque as coisas não funcionam assim. Já houve tempo em que eu fazia o que queria, com o poder da minha mente. Mas ele, que aprendeu tudo comigo, também adquiriu este mesmo poder. E mais: ele sabe como se fazer passar por mim, em qualquer situação que lhe convenha. A senhora não imagina quantos generais ele usou, ao longo desses milênios, para levar o flagelo à raça humana, em meu nome.. Quanto mais pessoas imploram por minha ajuda, mais o fortalecem. Já reparou que em cada oração há uma omissão?
- Não entendi. – sua pergunta direta pegou-me de surpresa. Até então, o nosso diálogo se resumia em perguntas que o estimulavam a prosseguir com sua fala. Mas a pergunta foi feita diretamente para mim. – Em cada oração uma omissão? – Devolvi-lhe a pergunta.
- Sim. A cada vez que os inocentes me pedem socorro, atestam a sua fraqueza e, portanto, a minha. Como vou poder lutar contra ele e seus exércitos, se aqueles que me poderiam ajudar, se escondem atrás de mim?.  A cada vez que os humanos permitem que se matem uns aos outros, esperando que eu puna os culpados, fortalecem àquele que os insuflou. A cada criança mutilada, violentada ou morta me coloca numa situação constrangedora perante os humanos, porque não lhes posso fazer entender que não sou eu aquele a quem se dirigem. Que quanto mais exigem de mim, mais me condenam. 
- Mas, o que devemos fazer para lhe ajudar a reaver o seu trono? Como organizar um exército capaz de derrotar alguém tão astuto, a ponto de nos confundir?
- Aprendendo que não se forma esse exército olhando para cima. Entendendo que aquele que está no alto é o outro. O que sempre esteve, o tempo todo.

De repente cessaram as perguntas. Quaisquer que eu pretendesse fazer já saberia a resposta. Os olhos daquele homem, a princípio negros, se alternavam entre castanhos, verdes, azuis. E do brilho que deles emanava, feito nítido espelho, vislumbrei toda a raça humana, à deriva, com seus cânticos, choros e ranger de dentes.

Uma gargalhada sinistra, vinda de algum lugar acima do teto, me fez acordar, de sobressalto.

05/12/11

TROCANDO O 15 PELO 20

Nas costas de um homem doeu chibatada
mais que no outro.
Ao outro e a si prometeu: - Nunca mais.
- Livre nasci, livre serei, até a morte.
Assim, sem exclamação. Só a certeza.

Sua certeza formou o exército
de homens,
guerreiros,
valentes,
livres.

A Liberdade forja o valente
que forja o guerreiro,
que forja o homem,
que forja o exército,
que forja a certeza,
que só livre o homem será.

Seu sangue jorrou por cada poro
e respinga em cada rosto
de negro, de branco,
de mulato, de sem cor.
que sonha
que um dia
no seu dia
Zumbi dos Palmares será
o responsável
pelo feriado
nacional
em memória de quem um dia sonhou
e lutou
e morreu
por uma Nação,
como ele,
Livre.


20/11/11