quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O ANJO BLOGUEIRO

Eu tenho a mania de invocar anjos. Tenho um para cada situação. Descobri que assim funciona melhor do que se tiver só um para me ajudar em tudo o que eu preciso. Perdi muito tempo na vida tentando audiência com o primeiro escalão, até descobrir que há vários outros, subalternos, que podem nos ajudar em pequenos problemas do cotidiano. Por exemplo, nos meus tempos de contabilidade, quando estava com dificuldade e urgência de fechar um balancete, eu gritava (dentro de mim): - Oh, meu Anjinho Contador, me ajuda! E lá vinha ele, me soprar algum número escondido em qualquer canto e pronto! Fechava. O Anjo Contador já o aposentei, mas tenho vários outros ainda na ativa, como o Anjo Encanador, o Anjo Eletricista (meio desajeitado esse), o Anjo Escritor (fugiu no 4o período da Escola dos Anjos), o Anjo Lembrador, o Anjo Enfiador de Linha na Agulha... Só não encontrei ainda um Anjo Faxineiro, mas tudo bem, alguma coisa tenho de fazer sem ajuda divina. Enfim, sempre me dei muito bem com todos eles, mas os tempos mudam e com os novos a chegada de novas enrascadas:

Recentemente tive que enviar solicitação aos superiores que me providenciassem um entendido em blogspot, porque palavras como templates e gadgets pra mim são palavrões ainda não inseridos no meu vocabulário. Pensei que não tivesse merecido a graça, mas não é que dia desses me apareceu um? Meu Anjinho Blogueiro.

É mudo, o coitado. Mas, esperto como ele só, deu um jeito de me apresentar à Tayane, uma menina que, com seu jeitinho displicente, me ajudou num detalhe que estava emperrando meu blog de existir da maneira que eu queria. Não tem pessoinhas que surgem assim, do nada, em nossa vida, para fazê-la mais leve? Então, coisas de anjos.


22.02.11

CONSELHOS DE EX

Caso você case, não diga nada sobre nós ao seu amor, me promete?
Não há nada pior num relacionamento novo que a comparação com ex-esposa. Sei que entre nós não poderia mais dar em nada mesmo, mas vai que ela não saiba da impossibilidade? Se tiver que lhe explicar porque não poderá casar na igreja, conte aquela história do derradeiro desejo de uma virgem moribunda. Sempre cola.
Porque, vai que ela comece a cutucar uma história que acabou faz tempo e que me coloque tantos atributos, pra se nivelar por alto, que te traga alguma lembrança indevida? Vai que, ao tentar convencê-la do contrário, ela comece a pensar que você só gosta de porcaria e comece a se perguntar por que você a escolheu, depois de mim? Vai que de tanto ouvi-la falar em mim, você se entoje até da voz dela? Pensando bem, há coisa pior que o passado sim. É de lascar quando a gente pega birra da voz de quem se ama. Vai que de tanta birra você comece a lamentar o casamento e a preferir o tempo em que só a pegava de vez em quando, enquanto estava comigo?                
Ah! Meu amigo. Bom seria se não casasse, mas caso você case não se esqueça de abrir logo o jogo, deixando bem claro que não pretende ser fiel. Verdade logo no início faz doer um pouco, mas ainda é melhor que a verdade descoberta depois de muito amor doado. Mas não se esqueça também, e isso é muito importante, de destravar a porta pra ela ter lá as suas escapadinhas, sempre que estiver meio carente e não ter você por perto. Ah! E um último conselho: não se esqueça de providenciar um quarto para a D. Matilde. Ouvi dizer que ela está pretendendo morar com a filha, logo depois do casamento.


20.02.11

Para a rodada de crônicas
Tema: CASO VOCÊ CASE

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O QUADRO E A PRINCESA

- As Cartas não mentem jamais. - Mentiram. Disseram-me que meu lindo príncipe viria, montado num cavalo branco e me amaria. Disseram que ele viria porque eu era uma princesa e há sempre um príncipe chegando para cada princesa que espera.
Digníssimos cavalheiros por mim desfilaram com cavalos de todas as cores e admirei suas cavalgadas, mas não era, nenhum deles, o príncipe. Acenei-lhes de longe e desejei-lhes boa viagem. Que lhe dessem notícias minhas, quando o vissem. Decerto só não cavalgaram nas mesmas estradas, pensava.
Valentes guerreiros, decentes ferreiros, pescadores, aldeões, tantos sapos beijados! E nenhum traço de realeza.

Mas nunca ousei praguejar contra a Cartomante. Ela prometera e eu esperava. No quadro pintado que emoldurava seu semblante altivo, ao pé do meu berço, no momento solene da predestinação, me lembrava sempre que eu confiasse.

Até que um dia, certa luz de triste poente revelou-me no rosto da Cartomante um riso de ironia. E tudo se fez claro. E tudo se fez dor. Mentiram-me as Cartas. Mentiu-me a Cartomante. Cínica! Tivesse o sol nascente, ou qualquer outra curva de sol, adentrado a janela, a tempo! E se tivesse lhe perguntado, pois que espelhos e pinturas respondem às princesas, teria me dito: - Tola! Não vês que cumpro a sina da enganosa Esperança? Tu és a princesa e, portanto, príncipe será, por consorte, qualquer um que aceite o título.  – E assim, na solidão das coisas possíveis ruíram castelos e sonhos. Só restaram duas velhas paredes: uma a eternizar o riso da Cartomante e a da janela, por onde vislumbro o Tempo.


                                               
13.02.11




3a. TAÇA DE OURO no blog Letras do BVIW
com o tema CARTOMANTE

Eh! gente. Tô ficando mal acostumada!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SE É PRA FALAR EM VERDADES

Mas, de qual realidade você está falando?
Da que me priva da presença de quem me agrada e me força a tolerar quem nem conheço? Da que me oferece sons que me zumbem no ouvido e me reduz a minutos os que me apaziguam? Da que me tira da cama na hora em que eu queria estar me aconchegando nela?  Da que protelou por mais não sei quantos os já 30 de trabalhos forçados?  Da que se baseou em não sei qual mãe a minha expectativa de vida? Da que nem sei o gosto, porque não me apetece? Não, obrigada.

Prefiro o que você chama de alienação. Declino das realidades que você me serve neste prato de papelão corroído pelos ratos que me enojam e que se julgam meus donos. As suas realidades me enfraquecem o que em mim deveria ser forte e fortalecem o que tenho de pior. Por elas me tornei indiferente a tudo o que chamam gente. Por elas não me jogo mais às perolas, porque não valho os porcos.

A sua Vida nunca me permitiu nada do que lhe pedi, mas eu não sei por qual mistério lhe aprouve conceder-me papel e lápis e com eles, ah! mal sabe ela que me deu tudo o que eu precisava.
Com eles invento meus mundos, descubro rotas de fuga, crio minhas personagens e creio nelas, porque na fantasia tudo se pode, tudo se esquece, tudo entorpece. Choro dores que não são minhas, dou-lhes pompas e circunstâncias. Rio risos que não são meus, mas tampouco serão seus, porque eu os criei, para o meu deleite. Criei o meu mundo à sua revelia.

O que quer saber você, agora, do que sinto? Mude primeiro o seu mundo e só me convide quando ele me couber. Antes disso, quem é você que não sou eu? O que você pensa que sabe do que é verdade em mim ou em você? Eu lhe dou palavras. É a minha última concessão. Reflita-se nelas, se quiser, mas não pretenda que elas lhe mostrem o que você quer que eu seja.

Você nem ao menos pode saber se inventei quem lhe disse o que acabou de ser dito.


08.02.11