domingo, 30 de janeiro de 2011

O PATRÃO

Hoje falei grosso com o meu patrão. O que ele está pensando? Que pode me explorar, me fazendo trabalhar feito uma mula de carga, ganhando uma ninharia, enquanto ele só enche os bolsos? Com o lucro assombroso que ele teve no ano passado bem que poderia me dar um bom aumento, mas não! Pra ter um aumentinho de salário, só brigando mesmo. Só na marra. Mas não tenho medo dele, não! Eu sei que estou com a razão. Afinal, eu mereço porque sou eu quem trabalha. Eu é que tenho de aturar cliente chato, velha resmungona, criança birrenta, falta de troco, assaltante mal educado. Enquanto eu me ralo ele fica só lá de olho no sobe e desce do mercado financeiro e tal.
Eu lhe disse simplesmente: ou você me dá um aumento de salário ou eu paro de trabalhar hoje mesmo. Entro em greve e pronto. Quero ver o seu lucro como fica. Não quero nem saber se vou prejudicar os clientes que são pobres como eu. Os clientes são seus, então o problema é seu. Você que se vire pra explicar porque eles não serão atendidos.
O mais legal é que eu não o deixava falar nada. E eu ia dizer muitas outras coisas, mas o despertador me acordou.
Senti um misto de raiva e de alívio. Raiva sinto todo dia porque odeio despertador mas o alívio é raro e só vem mesmo quando o susto é grande. Ufa! Foi só um sonho! Coitada de mim se fosse realidade. “Tava na roça”, como diria a minha avó. – “Favor passar no Departamento De Pessoal” - Era só o que faltava, a essa altura da vida, disputar vagas com outros desempregados por aí.  
Todo sonho tem uma razão de ser, não é? São coisas que a gente vê ou ouve durante o dia e que se ligam a fatos da nossa vida. Daí resulta em cenas surrealistas como esta.
A razão deste sonho foi uma notícia que vi ontem num jornal: de uma mulher chorando na porta de um banco, porque não pode receber seu seguro desemprego ou coisa parecida, por conta da greve dos bancários.
Fiquei com pena dela, mas não dei muita importância na hora. Ou pensei que não tivesse dado. À noite, meu cérebro escreveu o roteiro e interpretou as duas personagens. A do patrão ficou muda, talvez porque meu cérebro nunca registrou nenhuma cena real na minha vida onde eu tivesse sido a patroa.
Sentei na cama e comecei a pensar: no caso real da senhora que chorou ontem, se o banco era estatal também era meu. Isso me torna patroa. Oba!. Ou pelo menos co-patroa (será que existe este termo?).
Não é verdade que, se um banco é estatal é do governo e se é do governo é de todos, da mãe, do pai, avô, neto, bisneto, e, portanto, meu?. Então, sou co-patroa. Este novo dado me coloca do outro lado. São os meus empregados! Preciso estar mais atenta ao sobe e desce do mercado financeiro! É o meu dinheiro. É o meu lucro!
 Aí eu acordo definitivamente ( era outro sonho).
- Acorda, minha filha! Ta atrasada, meu amor!
- Já vou, mamãe! (Minha mãe Joana.é tão paciente comigo!)

06/10/10       

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