domingo, 30 de janeiro de 2011

O PODER DE CONCISÃO

Drummond disse que quando terminava de escrever seus livros, com cerca de 2000 páginas, começava o verdadeiro trabalho de escritor, que é o da lapidação, de modo a conservar deles só a essência. Não por acaso foi grande. É no poder da concisão que se revela o bom escritor.  Coisa que ando me esmerando ultimamente, mas até agora, sem sucesso. É que tenho pena de deixar palavras soltas em cima da mesa, feito sobra de massa que nem pode ser aproveitada no bolo e nem servirá para o próximo, porque as texturas já não serão as mesmas.
Lembrei do Drummond porque uma frase me veio à cabeça hoje, mas ao tentar discorrer sobre ela, percebi que jamais o conseguiria em linhas contadas, porque as lembranças são muito minhas ainda e o distanciamento necessário para expurgá-las demanda tempo. Deixei a frase de lado e resolvi divagar sobre a capacidade que tem o nosso cérebro de abrir instantaneamente arquivos gigantescos, zipados e criptografados. E enquanto uma parte se ocupa da descompactação do passado, outra o devolve traduzido ao momento presente, com um poder de síntese impressionante.  Uma palavra acessa o passado, outra o resume.
Com a mesma facilidade dos convívios íntimos, onde uma frase, ou gesto, ou piscadela se transformam em senhas que abrem arquivos compartilhados de imagens, dificilmente retratadas a estranhos com a mesma perfeição e rapidez.
Como ainda estou longe dessa concisão e se aproxima o meu limite de linhas, o jeito é interromper o texto e buscar formas de subdividir meus arquivos em outros mais leves.

A frase? – “Ah! Doce vingança! Não eram para você minhas poesias!”

22/01/11



O limite de 20 linhas é regra para postagens no blog do BVIW
Lá eu não pude dizer mas aqui quero acrescentar (porque tenha pena das sobras)
que Drummond completou sua frase dizendo que ele só publicava seus livros
para não ter que mexer mais neles. Para se livrar deles.

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