segunda-feira, 18 de abril de 2011

Só pra dizer que te amo

"Oggi è un giorno qualunque
oggi si vive comunque
e non so perchè

Il tempo impone distanze
il tempo è fatto di assenze
e non c'è un perchè"


Há dias assim, como hoje,  em que brigo muito, muito comigo.
Porque faço o que devo e não faço o que quero.
Ouço Dolcenera, por nós.

Só preciso que saiba que não te esqueço.
18/04/11

sábado, 9 de abril de 2011

O SENTIDO DA VIDA

Dormir na inconsciência tranquila
de quem brincou o que podia
no dia que findou

E sentir o afeto verdadeiro
de um amigo
no abraço do sono junto

Eis a vida







A MÚSICA - II

Com a mão esquerda ao volante e a direita a atirar os discos antigos de vinil pela janela do caminhão. Assim ia ele, folgazão, pelas ruas da cidade, até a sua nova morada.
Com os olhos marejados de lágrimas, no assento do carona, a carregar espelhos e demais fragilidades, ia ela, parte integrante da mobília.
O asfalto, enriquecido de música, a soltar faíscas.

Certas pessoas quando querem, e mesmo quando nem percebem, causam mágoas profundas em outras. E ele, nesse dia, serviu-se de Nora Ney para marcar-lhe uma. Indelével.

Perder a casa própria e sujeitar-se novamente aos aluguéis, por amor ao marido, nunca foi coisa rara, infelizmente, para muitas mulheres. E ela, subordinada, por força das circunstâncias, aceitava a sua nova condição sem reclamar. Mas perder sua companheira de noites solitárias, ainda mais de maneira tão jocosa, foi dor indescritível.

E a grande ironia é que de todas as canções daqueles discos, cruelmente destruídos, a mais preciosa, a que dali em diante seria ouvida somente com os ouvidos de lembrar, era justamente a que ela cantava para velar o sono do seu amado:


 “Ó vento, não faz barulho
Porque ele está dormindo
Ó mar, não bata com força
Porque ele está dormindo.

Dorme, menino grande
Que eu estou perto de ti
Sonha o que bem quiseres,
Que eu não sairei daqui...”




Música: MENINO GRANDE
Compositor: ANTONIO MARIA (segundo o youtube)
Gravação: NORA NEY



sábado, 2 de abril de 2011

VERSO E REVERSO

              


Ela, de Aquário. A mente, à frente, sempre um passo.
Ele, de Sagitário. Metade homem, metade cavalo.


INÍCIO

Aos dois, a música:
Nele, dançada. Nela, ouvida.

Aos dois, a palavra:
Nele, falada. Nela, lida.

Aos dois, a risada:
Nele, farta. Nela, contida.



MEIO


Aos dois, os dias:
Nele, promessa. Nela, espera.

Aos dois, as noites:
Nele, festança. Nela, quimera.

Aos dois, o prazer:
Nele, busca. Nela, cautela.



FIM

Aos dois, o tempo:
Nele, cansaço. Nela, sublimação.

Aos dois, a saudade:
Nele, remorso. Nela, superação.

Aos dois, a morte:
Nele, partida. Nela, perdão.





Para a Dê e o seu Zezinho




A MÚSICA - I


                          


Numa noite, há muitos anos, na história de uma linda mocinha, houve um adeus com gosto de lágrimas, ao som de uma linda valsa. Não se conheceu o motivo do rompimento, mas soube-se da imensa dor por ele causada. E a mocinha viu partir o seu grande amor, e à medida que se afastava, ia-lhe arrancando, pedaço a pedaço, o coração. E os acordes da triste valsa a fazerem ainda mais lindos os olhos verdes do amado, que daquela noite em diante seriam de outra qualquer. E o valsear dos casais perderia o mais belo dos seus pares. Tudo acabado. O destino desfolhava toda a felicidade que seu amor traduzira. E o primeiro grande amor conhecia a dor. Desfeito o ninho, tudo se faria saudade.

Mas, assim como nas lindas valsas que falam de amor e dor, falou-se também do tempo, que trouxe de volta o amado e muitas outras dores, mas desta, sendo a primeira, para sempre no peito encravada.

E deste amor imensurável, até que a morte lhe tirasse o verde dos olhos do amado, nasceram frutos e, destes um, que pela mesma música se encantou. Regravou-se em outra época a canção que faria marcar, já então, duas adolescências.

E o tempo tornou a passar para que a morte levasse, desta vez a mocinha de olhos chorosos, de lábios já murchos de tantas renúncias. E viu-se o pranto correr, na saudade que ficou. E sua história foi-se consigo, ao encontro talvez do amado.

E o tempo, abre-alas da morte, levou também a adolescência do fruto para bem longe, deixando em tudo o perfume, na quietude dos amores contados e recontados.

Um dia, os frutos do fruto ouvirão a mesma valsa, ou outra, que os farão recordar-se de outros amores, em outros tempos, vividos.

Por onde o tempo passa e tudo o que a morte leva, ainda que haja dor, não se sabe que força é essa, que só a música permanece, para contar as histórias de amor.







Homenagem à Lola e Jayme






A música: E O DESTINO DESFOLHOU

1ª gravação – Carlos Galhardo – anos 30/40
2ª gravação – Paulo Sérgio – anos 70






O nosso amor traduzia felicidade e afeição
suprema glória que um dia tive ao alcance da mão
mas veio um dia o ciúme e o nosso amor se acabou
deixando em tudo o perfume da saudade que ficou.

Eu te vi a chorar, vi teu pranto em segredo correr
e parti, a cantar, sem pensar que doía esquecer.
 Mas depois veio a dor. Sofro tanto e essa valsa não diz,
 Meu amor, de nós dois, eu não sei qual é o mais infeliz.

Os nossos olhos choraram, o nosso idílio morreu.
Os nossos lábios murcharam porque a renúncia doeu.
Desfeito o ninho, a saudade humilde e quieta ficou
mostrando a felicidade que o destino desfolhou.

Composição de: Mario Rossi e Gastão Lamounier


27.03.11




OS GENÉRICOS DO AMOR




O amor, quando verdadeiro, não se interrompe. Não existe ser humano capaz de desligar esse interruptor. Não sem muito sofrimento. O que nos ilude, muitas vezes, é que nos vendem coisas parecidas com o amor. Há empatia, simpatia, admiração, carência afetiva, auto-afirmação. Há até a falta do que fazer. Mas, dentre todos os perigos aos quais está exposto o nosso coração, o mais devastador é quando nos fazem tomar do amor genérico.

O genérico do amor está por aí, em cada esquina, em cada virar de olhos, em cada poesia lançada aos quatro ventos. A bula é igual, a dose é a mesma, a embalagem criativa, o sabor às vezes até mais açucarado. Ao contrário do verdadeiro, que nos deixa na boca o mel e o fel, que altera o nosso cheiro, se embrenha pelos poros e chega ao nosso DNA, para dali em diante nunca mais sermos o que fomos antes dele. Estejamos onde estivermos e com quem estivermos ele estará lá, porque não há modo de desligarmos nossas artérias e permanecermos vivos.

O genérico do amor é danoso porque tem o brilho da coisa nova. Tem a leveza do encanto. (Do canto das sereias). A diferença é que ele evapora mais rapidamente e, ao evaporar, destrói o nosso sistema imunológico. Deixa-nos graves efeitos colaterais, como, por exemplo, a saudade da coisa vazia. E não existe pior seqüela que a saudade do que poderia. Bem diferente da saudade do amor curtido, que mesmo lavando os olhos, nos faz companhia.

Mas, cuidado, que até a saudade tem seus genéricos. Um deles até conheço: o amor-próprio ferido, que em tudo a ela se assemelha, no escuro. Até que nova luz se acenda.

Não que todo genérico seja ruim, pois na falta do nada o pouco sempre ajuda. Mas, se pretendemos evitar falsificações, nada melhor que a vacina de uma boa dose de auto-estima.











Dedicado a todos que tiveram seus interruptores danificados devido ao mau contato de fios baratos.