domingo, 30 de janeiro de 2011

ALICE, NÃO COMPLIQUE!

Há alguns anos ouvi este conselho de um colega de trabalho e nunca mais o esqueci. Não lhe captei o verdadeiro significado, à época, e tampouco o segui, mas não esqueço uma boa frase, mesmo que venha em tom de crítica. E essa, inclusive, rimou.
Em questões de trabalho, como foi o caso, infelizmente eu tinha e tenho até hoje, a maldita mania de querer entender a raiz dos entraves diários dos serviços burocráticos e ao chegar à veia, quase sempre acaba o sangue por espirrar em mim. Daí o conceito de complicada e daí o conselho do meu colega.
Mas, digo que não lhe captei o verdadeiro significado porque, como esta frase ficou gravada no meu inconsciente, acabou se amplificando e se tornando mais útil na minha vida pessoal, Pena que muito tempo depois. Quantos anos levamos para entender coisas tão simples na nossa vida! Conselhos como esse, deveriam fazer parte do currículo pré-escolar:

- “Crianças, quando crescerem, não compliquem. No trabalho, cuidem somente das suas tarefas, quaisquer que sejam. Não se intrometam nas tarefas dos seus colegas, apenas cuidem para que as suas sejam tão bem feitas que eles também possam ser felizes. Se quiserem realmente ser verdadeiros cristãos, não se preocupem com vertentes, correntes, patentes ou gerentes. Nem com os 10 mandamentos se preocupem. Aprendam o segundo e sejam felizes. O resto é redundância. Se vocês quiserem realmente fazer algo de relevante para a sociedade, não se preocupem com ela. Sejam felizes vocês. O exemplo corta caminho. Pouco adiantará se consumirem pelas mazelas do mundo se vocês não forem felizes. A felicidade atrai mais que os conselhos mais sábios. Ninguém gosta de estar ao lado de gente resmungona, mesmo coberta de razão.”

Se eu tivesse aprendido esta lição na minha infância, talvez nem tivesse contaminado meu sangue latino com tantas doses de Kafkas on the rocks e Saramagos sabor amargo.

Já comprei muita briga por gente que nem conhecia (e nem reconhecia) baseada no que achava ser minha maior virtude, a completa falta de egoísmo, como se fosse ele o pior dos defeitos. Devo ter conseguido conscientizar, em décadas, talvez uma meia dúzia de pessoas a não pensar tanto em si mesma, a não buscar seu próprio prazer se esquecendo que somos todos irmãos e que não pode haver felicidade completa enquanto alguém passa fome em algum lugar do mundo. Gritei, falei, esbravejei durante um tempo precioso da minha vida. Quase todo ele, pra falar a verdade. E quer saber? Não fui feliz, e o mundo, após a minha interferência, continuou intacto. Mas, pior que a derrota das minhas batalhas pessoais, foi a constatação de que fui samurai vencido do rei errado.

 Hoje vejo que os verdadeiros egoístas é que movem o mundo. Pena serem tão poucos. Como querem o melhor para si, não se contentam com pouco de nada. Não se contentam com pouca felicidade, com pouco dinheiro, com pouca beleza pra admirar, com pouca cultura, com carros velhos, com casas feias. Os egoístas genuínos não toleram a ideia de estarem ladeados por gente pobre, suja, desdentada, ignorante.  Não se contentam em morar em qualquer bairro, com ruas sujas e esburacadas, com cidades mal iluminadas, estados inexpressivos, países subdesenvolvidos, porque afinal isso tudo é deles e o que eles querem é ser felizes.

A lição que não aprendi a tempo é a que deixo:
Crianças, a vida é curta (e não há aí mera retórica, podem acreditar). Não sofram, além da poesia, pela humanidade. Aprendam a ser felizes e depois ensinem a quem queira. Mas somente a quem queira. Não compliquem.

20/10/10
                                                                        (para o meu amigo Thalisson)

Nenhum comentário:

Postar um comentário