domingo, 30 de janeiro de 2011

AS MISÉRIAS HUMANAS

A empresa onde trabalho está angariando, aqui em Porto Velho, donativos para os brasileiros do Rio de Janeiro, que no momento estão privados não só, mas também, de bens materiais. Olhando aquele amontoado de coisas que iam chegando e sendo despejadas no chão: biscoitos, roupas novas e velhas, arroz, meias, bolsas, leite, muletas, feijão, fraldas, sapatos de todas as cores e tamanhos, como se fossem entulhos para reciclagem, num retrato que renderia teses de mestrado em semi-ótica, me pus a agradecer à Vida o privilégio de dar o que nunca precisei pedir. De nunca ter provado da miséria, mesmo que momentânea.
Coloquei-me no lugar da mulher que precisará entrar numa fila para receber os seus absorventes (ainda bem que há gente que pensa nisso, eu não tinha pensado), ou passando pelo constrangimento de avaliar o tamanho das calcinhas, a ver se lhe serve alguma.
Diante daquele quadro inusitado para todos nós que ali estávamos, ouvi observações das mais variadas: - Olha esta sandália arrebentada! Como alguém vai usar isso? – Ora! É só colar com superbonder!  - E esta botinha aqui, que linda! Novinha! Por que será que estão dando, se está nova ainda?
 E eu, imaginando que talvez a garotinha que receberá a botinha nova, antes da tragédia nem tivesse igual. Talvez ainda tivesse mãe, mas botinha nova não. Ou haverá divisão de castas na triagem? Torço pra que não.
Um abriu uma caixa de biscoito recheado, comeu um, fez cara de nojo e jogou o resto no lixo: – Deve estar vencido! - Outro se admirou da quantidade de comida: - nunca vi tanta fartura!
Outra, depois de muito escolher, sem qualquer pudor separou um tênis branco e novo, para levá-lo, no final do expediente. Talvez seja o presente de Natal que não deu ao filho ou marido.
Não só as riquezas são diferentes, como diz a canção. Também há muitos tipos de miséria.

22/01/11

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