sexta-feira, 11 de março de 2011

DOBREM OS SINOS POR LAVINIA

Ando cansada de tanta benevolência. Ando mesmo cansada. – “Só Deus pode tirar a vida de um ser humano” – é o que mais ouço quando se fala em pena de morte para crimes hediondos. – “Se condeno à morte um assassino estarei agindo da mesma forma que ele” – outra frase premiadíssima nos festivais de asneiras. É impressionante a capacidade humana de perdão, em se tratando de tragédias alheias, que só lhe dizem respeito o tempo necessário até uma nova manchete na televisão.
Há alguns dias um monstro brasileiro enrolou um cadarço de tênis no pescoço de uma criança brasileira de seis anos de idade e a enforcou, para se vingar do amante. Enforcou uma criança de seis anos! Enforcou uma criança de seis anos! Enforcou uma criança de seis anos! Não, não é erro de digitação. É horror mesmo. Eu ouço o grito dessa criança, implorando ajuda, e não posso acudi-la. Eu vejo as suas perninhas e bracinhos se debatendo em vão enquanto agoniza, e não posso acudi-la. Eu sinto a sua lingüinha sendo espirrada para fora e não posso acudi-la. – Ah! Senhoras e senhores, não me venham falar de perdão em hora de náuseas!

Eu me nego terminantemente a compactuar com esta entorpecida permissividade reinante na chamada sociedade cristã (des)organizada, que fecha os olhos às barbáries, em nome de uma pretensa predestinação divina. - Nem na plateia me caibo. - Não sou conivente. Jamais serei conivente com um povo que prefere manter no seu seio um monstro, a permitir que futuros inocentes sejam protegidos, através da coibição severa desses atos inomináveis. Não sou cúmplice de assassinos de crianças. Meu Deus não é esse. Meu Deus não escreve tão torto dessa maneira. Se o Homem foi criado à imagem de Deus, como pregam os entendidos em leis celestiais, reivindico o meu pedacinho Dele para gritar por todos os inocentes que estão hoje com as bocas cheias de vermes, embaixo da terra. Por todas as crianças que deveriam estar brincando neste momento, ao invés de estarem à mercê de cadarços demoníacos nos pescoços.

Pelo menos as crianças! Que adultos são estes, com sangue de barata, que não conseguem fazer leis que protejam, pelo menos, as crianças de seis anos de idade?   – “Ah, mas a doida-lá foi presa” – Tá. Mas a doida-lá está viva, comendo, dormindo, brevemente namorando. E daqui a bem pouco tempo, livre, graças ao bom comportamento. Talvez nem fique presa, se for constatada insanidade mental. Me poupem. Até aos doidos de pedra se pode ensinar que não se rasga dinheiro e não se come bosta. Nada custa acrescentar que não se mata criança, caso contrário se morre também.  Doida sou eu que não consigo entender como um ato desses, cometido por um humano, deva ser julgado por Deus, já que seguramente não foi a Seu mando... (E deixo aqui as reticências propositalmente).

Orem, senhoras e senhores, pela alma do anjinho que foi para perto do Senhor, enquanto eu aqui fico orando pela criação imediata da Lei Lavínia. A Lei que matará sumariamente quem se atrever a assassinar crianças neste país.

Enquanto isso, a nova manchete já é de um outro doido que resolveu degolar a moça,  porque a amava e não era correspondido. Não sem antes quebrar-lhe os ossos e os dentes.

 Alice Gomes
   11.03.11


Referente ao bárbaro assassinato por enforcamento da garotinha Lavínia Azeredo em 02.03.11  que completaria neste domingo (13.03.11) seu aniversário de 7 anos.

Baseado nos textos abaixo, de autoria de Luiz Vieira Costa Neto, o Yamânu, publicado no Recanto das Letras em 05.03.11, e que gentilmente me cedeu autorização para a divulgação






MONSTRO E GENTE
O MONSTRO
FAZ-SE DE INSANO
MENTE SER DOENTE
MATA IMPIEDOSAMENTE

GENTE
INSANA GENTE
QUE A SI MENTE

CHORA A MORTE DA CRIANÇA
É CONTRA A MORTE DO MONSTRO
E CHAMA AO MONSTRO DE GENTE



(LUIZ VIEIRA COSTA FILHO)
05.03.11

  

  


MORRA MONSTRO
CRIANÇAS MORREM A TODO INSTANTE. ACIDENTES, GUERRAS DOENÇAS, FOME, ASSASSINADAS.

AS VEZES ACONTECE ALGUMA COISA DENTRO DA GENTE  QUE NÃO SABEMOS EXPLICAR. ALGUM ACONTECIMENTO É MUITO PESADO PARA NOSSOS OMBROS. MESMO SENDO ALGO QUE VEJAMOS ACONTECER TODOS OS DIAS.

O ASSASSINATO DESSA MENINA LAVÍNIA ESTÁ PESANDO NOS MEUS OMBROS, COMO SE ESSA MENINA DE SEIS ANOS DE IDADE TIVESSE O PESO DE TODAS AS CRIANÇAS QUE MORREM DIARIAMENTE EM TODO O MUNDO. ME SINTO CULPADO.

SINTO COMO SE EU ESTIVESSE AO LADO DELA DÊS DE O MINUTO EM QUE O MONSTRO A RETIROU DA SEGURANÇA DE SEU QUARTO. ESTOU AO LADO DELA NA RUA A CAMINHO DA CAVERNA DO MONSTRO. EU ESTOU COM ELA NA CAVERNA DO MONSTRO.

ENTREI COM ELA NAQUELE ÔNIBUS A CAMINHO DO SEU DESTINO FATAL. ENTREI NAQUELE QUARTO. VI O PAVOR ESTAMPADO EM SEU ROSTINHO DE MENINA DE SEIS ANOS DE IDADE. OUVI SEU CHORO. SUAS SÚPLICAS. E NADA FIZ.

PORQUE SINTO ESSAS COISAS NÃO SEI.  APENAS SINTO CERTA CULPA PELA MORTE DESSA MENINA. ME PERGUNTO PORQUE EU NÃO ESTAVA LÁ PARA IMPEDIR. PORQUE EU NÃO MATEI O MONSTRO ANTES QUE ELE MATASSE CRUELMENTE AQUELA MENINA DE SEIS ANOS DE IDADE.

COMO É POSSÍVEL QUE ALGO ASSIM ACONTEÇA? UMA MENININHA OLHANDO PARA A MORTE. SENTINDO A DOR DO GARROTE EM SEU PESCOÇO DE CRIANÇA. SENTINDO A DOR DA MORTE. COMO É POSSÍVEL QUE ALGO ASSIM ACONTEÇA?

PORQUE O MONSTRO NÃO MORREU UM SEGUNDO ANTES DE TENTAR MATAR A CRIANÇA? PORQUE EU NÃO ESTAVA LÁ PARA MATAR AQUELE MONSTRO? MORRA MONSTRO. TIRE ESSE PESO DE MEUS OMBROS MONSTRO.  MORRA MONSTRO.



(LUIZ VIEIRA COSTA FILHO)
05.03.11

Um comentário:

  1. A cada novo dia, novos casos, mas só ficamos sabendo dos noticiados. Realmente um horror! Parabéns pelo texto e furor. Abraços, Marília.

    ResponderExcluir