terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SE É PRA FALAR EM VERDADES

Mas, de qual realidade você está falando?
Da que me priva da presença de quem me agrada e me força a tolerar quem nem conheço? Da que me oferece sons que me zumbem no ouvido e me reduz a minutos os que me apaziguam? Da que me tira da cama na hora em que eu queria estar me aconchegando nela?  Da que protelou por mais não sei quantos os já 30 de trabalhos forçados?  Da que se baseou em não sei qual mãe a minha expectativa de vida? Da que nem sei o gosto, porque não me apetece? Não, obrigada.

Prefiro o que você chama de alienação. Declino das realidades que você me serve neste prato de papelão corroído pelos ratos que me enojam e que se julgam meus donos. As suas realidades me enfraquecem o que em mim deveria ser forte e fortalecem o que tenho de pior. Por elas me tornei indiferente a tudo o que chamam gente. Por elas não me jogo mais às perolas, porque não valho os porcos.

A sua Vida nunca me permitiu nada do que lhe pedi, mas eu não sei por qual mistério lhe aprouve conceder-me papel e lápis e com eles, ah! mal sabe ela que me deu tudo o que eu precisava.
Com eles invento meus mundos, descubro rotas de fuga, crio minhas personagens e creio nelas, porque na fantasia tudo se pode, tudo se esquece, tudo entorpece. Choro dores que não são minhas, dou-lhes pompas e circunstâncias. Rio risos que não são meus, mas tampouco serão seus, porque eu os criei, para o meu deleite. Criei o meu mundo à sua revelia.

O que quer saber você, agora, do que sinto? Mude primeiro o seu mundo e só me convide quando ele me couber. Antes disso, quem é você que não sou eu? O que você pensa que sabe do que é verdade em mim ou em você? Eu lhe dou palavras. É a minha última concessão. Reflita-se nelas, se quiser, mas não pretenda que elas lhe mostrem o que você quer que eu seja.

Você nem ao menos pode saber se inventei quem lhe disse o que acabou de ser dito.


08.02.11

Nenhum comentário:

Postar um comentário