sábado, 2 de abril de 2011

A MÚSICA - I


                          


Numa noite, há muitos anos, na história de uma linda mocinha, houve um adeus com gosto de lágrimas, ao som de uma linda valsa. Não se conheceu o motivo do rompimento, mas soube-se da imensa dor por ele causada. E a mocinha viu partir o seu grande amor, e à medida que se afastava, ia-lhe arrancando, pedaço a pedaço, o coração. E os acordes da triste valsa a fazerem ainda mais lindos os olhos verdes do amado, que daquela noite em diante seriam de outra qualquer. E o valsear dos casais perderia o mais belo dos seus pares. Tudo acabado. O destino desfolhava toda a felicidade que seu amor traduzira. E o primeiro grande amor conhecia a dor. Desfeito o ninho, tudo se faria saudade.

Mas, assim como nas lindas valsas que falam de amor e dor, falou-se também do tempo, que trouxe de volta o amado e muitas outras dores, mas desta, sendo a primeira, para sempre no peito encravada.

E deste amor imensurável, até que a morte lhe tirasse o verde dos olhos do amado, nasceram frutos e, destes um, que pela mesma música se encantou. Regravou-se em outra época a canção que faria marcar, já então, duas adolescências.

E o tempo tornou a passar para que a morte levasse, desta vez a mocinha de olhos chorosos, de lábios já murchos de tantas renúncias. E viu-se o pranto correr, na saudade que ficou. E sua história foi-se consigo, ao encontro talvez do amado.

E o tempo, abre-alas da morte, levou também a adolescência do fruto para bem longe, deixando em tudo o perfume, na quietude dos amores contados e recontados.

Um dia, os frutos do fruto ouvirão a mesma valsa, ou outra, que os farão recordar-se de outros amores, em outros tempos, vividos.

Por onde o tempo passa e tudo o que a morte leva, ainda que haja dor, não se sabe que força é essa, que só a música permanece, para contar as histórias de amor.







Homenagem à Lola e Jayme






A música: E O DESTINO DESFOLHOU

1ª gravação – Carlos Galhardo – anos 30/40
2ª gravação – Paulo Sérgio – anos 70






O nosso amor traduzia felicidade e afeição
suprema glória que um dia tive ao alcance da mão
mas veio um dia o ciúme e o nosso amor se acabou
deixando em tudo o perfume da saudade que ficou.

Eu te vi a chorar, vi teu pranto em segredo correr
e parti, a cantar, sem pensar que doía esquecer.
 Mas depois veio a dor. Sofro tanto e essa valsa não diz,
 Meu amor, de nós dois, eu não sei qual é o mais infeliz.

Os nossos olhos choraram, o nosso idílio morreu.
Os nossos lábios murcharam porque a renúncia doeu.
Desfeito o ninho, a saudade humilde e quieta ficou
mostrando a felicidade que o destino desfolhou.

Composição de: Mario Rossi e Gastão Lamounier


27.03.11




Nenhum comentário:

Postar um comentário